Coronário

Equipe


Giselle Beiguelman

Projeto

João Henrique Amarante

Tecnologia

Alexandre Gonçalves

Consultoria

Revisão e tradução: Adriana Kauffmann

Sobre o Projeto


Coronário é um projeto de net art, na forma de um ensaio hipertextual, sobre a experiência cultural do coronavírus. Devido à postura negacionista da pandemia pelo presidente Bolsonaro, no Brasil essa experiência ganhou traços particulares, sem deixar de dialogar com o âmbito global. O fenômeno é lido aqui por meio de três pontos de vista: a linguagem, a mediação do Google na operação do cotidiano e as estéticas da vigilância.

O ponto de partida do Coronário é um conjunto de 25 palavras popularizadas no contexto da Covid-19, como álcool gel, home office e pandemia, para as quais oferece um pequeno glossário.

A lente do Google

A determinação do conjunto com 25 palavras obedece à lógica do Google Trends (o buscador de tendências de pesquisa da Google, hoje Alphabet). É esse o número de respostas que o programa gera para cada consulta. No caso do Coronário, as palavras selecionadas foram submetidas ao Google Trends, a fim de verificar o interesse que mobilizaram antes e depois da propagação do coronavírus.

É fato que o Google Search Engine (o programa de busca da Google) não é um espelho das dinâmicas sociais. Contudo, é um indicador das preocupações e interesses sociais em um dado momento.

Vigilância ao Vivo Show

Um mapa de calor verifica dinamicamente a atenção do público às palavras que listamos como componentes do léxico do coronavírus. As mais acessadas pelo público mudam de cor, numa escala que varia do azul (mais frias) ao vermelho (mais quentes e, portanto, mais acessadas).

Esses mapas de calor tornaram-se imagens recorrentes no contexto da Covid-19 e podem ser interpretadas como uma das imagens-chave do contexto pandêmico. Carregados de sentido, no âmbito das estéticas da vigilância, os mapas de calor não apenas monitoram a fisiologia do corpo no espaço, mas são usados também como uma ferramenta de rastreamento do comportamento do público diante de um site.

Importante compreender que no contexto da “dataveillance” (vigilância de dados) contemporânea, não é o indivíduo o foco, mas sua integração a um padrão. As manchas de calor não são resultantes, portanto, de interações básicas, em processos de ação e reação. Elas operam de forma relacional, indicando a distribuição da atenção de todo o público deste site, incorporando as interações individuais na constituição de padrões e tendências coletivas.

Cultura do Coronavírus

Coronário apropria-se do vocabulário visual do coronavírus para fazer um exercício crítico de "vigilância ao vivo". Com isso, dá ao público a oportunidade de ver um procedimento corriqueiro de monitoramento de seus modos de acessar a Internet, geralmente invisível e ignorado. Ao mesmo tempo, o projeto discute o capital simbólico da atenção e o seu papel estruturante na economia do olhar que rege o mundo digital.

Por fim, ao interpretar o coronavírus no âmbito da cultura, partindo do seu léxico, o Coronário assume que estamos diante não apenas de um dos mais graves problemas de saúde pública da história. Estamos também em um momento de profundas transformações sociais e econômicas locais e globais, catalisadas pela pandemia.

Giselle Beiguelman, abril 2020

Obra criada para o programa IMS Convida (Instituto Moreira Salles)